Por Carlos
Zacarias de Sena Júnior1
É
preciso concordar com as palavras do filósofo e professor da USP
Vladimir Safatle, que disse: “esta ‘pátria educadora’ não
merece ter professores”. Sua indignação repercutiu, ainda mais
porque Safatle, articulista do jornal Folha
de São Paulo,
é um importante intelectual deste país. E é também professor,
algo de que se orgulha e lembra logo no início do texto publicado no
último dia 5. Mas deixando-se de lado sua ironia em forma de
desabafo, cabe perguntar: qual o sentido de se tornar professor
quando sabemos a forma como a educação é tratada neste país?
É
verdade o que Safatle diz: os professores brasileiros, que estão em
penúltimo lugar no ranking dos salários de 35 países publicados
pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico), ganham 51% da média salarial de outras profissões com
formação semelhante; têm salas de aula lotadas, com uma média de
32 alunos por turma; e ainda trabalham em escolas sem nenhuma
estrutura, inclusive sem bibliotecas. Para completar, estão sob
permanente ameaça de sofrerem agressão física, sem falar das
inumeráveis doenças ocupacionais a que estão sujeitos,
principalmente de serem acometidos pela Síndrome de Burnout.
No
caso da educação superior, os problemas são os baixos salários
percebidos por docentes que levam, no mínimo, dois anos no mestrado
e quatro no doutorado, obtendo uma remuneração incompatível com a
formação e a importância da função que exercem. Também a
precarização e o excesso de trabalho, além das péssimas condições
das universidades públicas, completam o quadro de descalabro vivido
por professores na “pátria educadora”. Tal situação levou o
reitor da UFBA, João Carlos Salles, a cerrar fileiras em defesa da
universidade, junto com as representações estudantis e entidades
sindicais de docentes e servidores técnico-administrativos, na
semana em que uma greve nacional foi deflagrada.
Os
problemas são generalizados, e não há distinção de tratamento
entre os vários níveis de ensino e as instâncias que compõem o
ente federativo da “pátria educadora”. No momento em que escrevo
este artigo, há greves da educação em diversos estados e
municípios do país. Os docentes das universidades estaduais baianas
encaram a sua sétima greve em 15 anos e os trabalhadores das
instituições federais de ensino, inclusive da UFBA, acabaram de
decidir por uma greve por tempo indeterminado, se incorporando a
paralisação nacional.
O
exemplo mais tristemente célebre da forma como os governantes tratam
a educação, entretanto, é o do Paraná, onde professores,
estudantes e trabalhadores de diversos setores enfrentam como podem a
brutal repressão da polícia do governador Beto Richa, enquanto
lutam por melhores condições de vida e trabalho.
Há
quem diga que as greves na educação não são muito produtivas.
Todavia, que outra categoria de trabalhadores tem ensinado tanto ao
Brasil como os professores quando estão em greve? E talvez só por
isso este país deva aprender que para merecer o título de “pátria
educadora”, é preciso começar por tratar bem os nossos mestres.
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