segunda-feira, 1 de junho de 2015

Greve educadora!

Por Carlos Zacarias de Sena Júnior1
É preciso concordar com as palavras do filósofo e professor da USP Vladimir Safatle, que disse: “esta ‘pátria educadora’ não merece ter professores”. Sua indignação repercutiu, ainda mais porque Safatle, articulista do jornal Folha de São Paulo, é um importante intelectual deste país. E é também professor, algo de que se orgulha e lembra logo no início do texto publicado no último dia 5. Mas deixando-se de lado sua ironia em forma de desabafo, cabe perguntar: qual o sentido de se tornar professor quando sabemos a forma como a educação é tratada neste país?
É verdade o que Safatle diz: os professores brasileiros, que estão em penúltimo lugar no ranking dos salários de 35 países publicados pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), ganham 51% da média salarial de outras profissões com formação semelhante; têm salas de aula lotadas, com uma média de 32 alunos por turma; e ainda trabalham em escolas sem nenhuma estrutura, inclusive sem bibliotecas. Para completar, estão sob permanente ameaça de sofrerem agressão física, sem falar das inumeráveis doenças ocupacionais a que estão sujeitos, principalmente de serem acometidos pela Síndrome de Burnout.
No caso da educação superior, os problemas são os baixos salários percebidos por docentes que levam, no mínimo, dois anos no mestrado e quatro no doutorado, obtendo uma remuneração incompatível com a formação e a importância da função que exercem. Também a precarização e o excesso de trabalho, além das péssimas condições das universidades públicas, completam o quadro de descalabro vivido por professores na “pátria educadora”. Tal situação levou o reitor da UFBA, João Carlos Salles, a cerrar fileiras em defesa da universidade, junto com as representações estudantis e entidades sindicais de docentes e servidores técnico-administrativos, na semana em que uma greve nacional foi deflagrada.
Os problemas são generalizados, e não há distinção de tratamento entre os vários níveis de ensino e as instâncias que compõem o ente federativo da “pátria educadora”. No momento em que escrevo este artigo, há greves da educação em diversos estados e municípios do país. Os docentes das universidades estaduais baianas encaram a sua sétima greve em 15 anos e os trabalhadores das instituições federais de ensino, inclusive da UFBA, acabaram de decidir por uma greve por tempo indeterminado, se incorporando a paralisação nacional.
O exemplo mais tristemente célebre da forma como os governantes tratam a educação, entretanto, é o do Paraná, onde professores, estudantes e trabalhadores de diversos setores enfrentam como podem a brutal repressão da polícia do governador Beto Richa, enquanto lutam por melhores condições de vida e trabalho.
Há quem diga que as greves na educação não são muito produtivas. Todavia, que outra categoria de trabalhadores tem ensinado tanto ao Brasil como os professores quando estão em greve? E talvez só por isso este país deva aprender que para merecer o título de “pátria educadora”, é preciso começar por tratar bem os nossos mestres.

1 Doutor em História. Professor da UFBA.

Artigo publicado no jornal A Tarde em 01/06/2015


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