quarta-feira, 27 de maio de 2015

PARA ALÉM DO CONTEÚDO DA CANECA!

Profa Dra Áurea C. Costa.

Maio de 2014. Os estudantes de Araraquara protestam e ocupam a diretoria do campus por moradia digna - requisito para um melhor aprendizado. Radicalização. Ocupação – estratégia tradicional de luta e resistência desde o alvorecer do século XX. Um incauto, achando-se o baluarte da revolução, pratica um tal “terrorismo poético”, não deliberado em assembleia estudantil, muito longe de representar a vontade da massa dos estudantes organizados, oferecendo uma justificativa formal para intensificação das velhas perseguições aos ativistas políticos pela reitoria e pelas diretorias. Em nome da moral e da ordem intensificam-se as admoestações institucionais: mais de uma centena de alunos sofrendo comissão de averiguação por ocupação da Reitoria; 31 sofrendo sindicância por ocupação de diretoria em Rio Claro; comissão de averiguação para apurar denúncias anônimas sobre 7 professores de Prudente, do comando de greve de 2014 e agora, em 2015 a sindicância do professor Jean Paulo Menezes.

Grande tem sido a exposição, o constrangimento e o sofrimento dos acusados, antecipando a pena à condenação, devido aos nomes estampados nos quadros de avisos e mails. Muitos alunos têm sido levados ao abandono dos cursos e ao adoecimento antes mesmo da conclusão dos processos, tamanha a violência! E nós, distraídos com a discussão sobre o conteúdo da caneca que deu causa a um processo expulsório de alunos e outras moralidades, imoralidades e amoralidades esquecemo-nos de que deixamos de avaliar o conteúdo intelectual e político dos alunos que estamos perdendo.

Esses alunos sindicados entraram pelo vestibular - não invadiram a universidade pulando a cerca na calada da noite - frequentam a universidade todo dia para buscar o ensino, executam a extensão e colaboram na pesquisa de tantos docentes. Quando são suspensos ou expulsos, é um prejuízo imediato para seus orientadores, que deverão assumir os compromissos mediante as agencias de fomento e a PROEX, PIBIC, PIBID, NUCLEO DE ENSINO e escolas conveniadas para estágios. São dezenas de cadeiras vazias nas salas de aula que poderiam estar ocupadas por alunos que quando voltam após as suspensões, permanecem, pelo menos, um ano a mais na universidade em função das punições, e se são expulsos, significam vagas desperdiçadas, seres humanos que demorarão muito para se recomporem do fracasso escolar, famílias com um projeto frustrado.

Nós, docentes efetivos, detemos 70% do poder nos colegiados, nos omitimos e não exigimos ao reitor a ponderação de que se o conteúdo da caneca tem cor, odor, consistência e um significado social, também existem muitos outros “detritos” não apreensíveis pelos sentidos, que trazem prejuízos que penalizam a própria universidade e os docentes. Não sabemos dimensionar os atos e consequências, no sentido de realizar a justiça reparadora, detendo-nos na primitiva justiça vingativa, ao tratarmos dos problemas da universidade.

É contra esse absurdo que tantos professores, entre eles, o prof. Jean Menezes bradam, indignam-se e exigem da reitoria uma posição mais pedagógica e menos repressora. Exigimos, sim, exigimos urgentemente que a reitoria, bem como as diretorias revoguem todas as comissões de averiguação, sindicâncias e processos que criminalizam os estudantes e os professores que lutam por uma universidade mais educadora e menos repressora. Afinal, em se tratando de uma instituição de ensino, que a caneta seja uma arma para a conquista do conhecimento, não para a firma de sentenças de morte social!



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